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domingo, 19 de dezembro de 2010

A casa

Era uma vez uma casa que tinha Sol lá dentro, chamava o sonho e afugentava o medo.
A casa fechou as portas e o seu poder desapareceu.
Corria um dia de chuva, quando as portas se abriram outra vez e as folhas acamadas foram deitadas longe; as torneiras voltaram a funcionar e as fechaduras oleadas entornavam sorrisos para dentro de casa, onde as panelas entonteciam de cheiros tépidos, e a tua voz soava tão bem.
Foi perto do Natal que isto aconteceu e ela dizia que a Primavera estava a chegar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Um mar

Cheguei de um poço,
onde não havia mar.
Bebi a névoa que o cheiro trazia,
em cestos de areia.
Cheguei e vi o mar,
Um mar,
contigo_____

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Entre dois lugares

Hoje pela tardinha, já amornecia, encostei-me a uma parede cálida, a ver passar figuras, que pareciam saídas de um filme antigo.
Abrigada numa ruela estreita, entre prédios altos e paredes brancas, uma escola de música, um café e um teatro.
As janelas estavam abertas, com miúdos a versejarem as teclas,
simples, delicioso.
Detive-me numa mulher frágil, que anda sempre por ali, serigaita e ondulante, a deslizar pela calçada, e a olhar para todos os lados; fui-a perdendo de vista,
Alonguei-me no olhar e, segui o dono duma loja, que vende roupa hilariantemente cara, e que subia a rua, indiferente, de braços estendidos, com o seu ar símio.
Lembrei-me da loja no Centro, em Carnaxide. Da dona, uma mulher, inchada, menopausica, imagino. Insuportável, nas suas tiradas histéricas.
Vestia sempre, túnicas esvoaçantes, com pretos e cores vibrantes, que distraíam as misérias da carne. As clientes, eram mulheres que procuravam tamanhos grandes, que se cobrem de panos e se maquilham furiosamente.
Vi sair do café, o dono da sapataria, num passo apressado e cabisbaixo, em direcção à loja. Sempre,
uma imagem inquieta.
Lembrei-me de quando passo por ali, e não o vejo à porta, de mãos atrás das costas, num sorriso engelhado, que culmina num esgar, e olho para dentro da loja e não o vejo, interrogo-me sempre por onde andará.
Talvez neste café; fica ali tão perto, e os clientes escasseiam cada vez mais.
A música, entretanto deixou de se ouvir, e as imagens desvaneceram-se, a calçada ondulou até se ajeitar sozinha,
em casa.

sábado, 18 de setembro de 2010

A eternidade é errante

Era sempre assim, quando varria o quintal.
Atirava um balde cheio de água e sabão, e esfregava a pedra com uma vassoura de cerdas rijas.
Um prazer, ver as pedras secarem ao sol, ou, à tardinha com laivos de ouro e rosa.
Estou a aprender que a eternidade é errante.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Viagem

Sentia Orccha como um fascínio, os rostos, a cor do Rajashtan, a pedra, os papéis.
Coisas que levava para a cama, numa amalgama de sentimentos.
Ela e a viagem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pedras

As pedras são um fascínio,
Minúsculas, pesadas, ou portáteis.
As que pertencem à praia, trazidas pelas marés que as soltam, vindas de outros lugares, outros cheiros.
As do campo, terra endurecida, mostram-se com as cores e a luz dos lugares que habitam.
As das calçadas,
antigas, lustrosas, difíceis, apelativas.
Memória definitiva, do tempo e dos lugares, por onde passamos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tempo e afecto

O desejo
esplendido e doce
O afecto
O encontro
no corpo
A singularidade
a partilha
O tempo sentido
sem tempo,
só nós e o outro.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Asilah

Asilah ,
ofereceu-me a cor num sorriso de mãos abertas.
Recriou verdes e brancos.
Azuis de mar com céus antigos.
E um pátio.
Sonhos vividos no presente,
Com o mar sempre ali.
Amo-te

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Longe

Alice Prina
Sentia tanto calor que teve de se estender.
Lembrou-se de quando era criança em Silves.
Do calor.
Assaltaram-na memórias dos cheiros, das cores, de situações.
Do calor que soprava forte na Arrochela e da frescura do chão e das paredes caiadas da casa da avó que lhe serviam de abrigo.
Das casas pobres de Silves.
Uma porta, às vezes uma janela, e um quintal atrás, ou nem isso.
Em todas estas casas havia meninas, com quem só tinha autorização de brincar muito pouco.
As mães andavam por ali, e ao fim da tarde sentavam-se às portas, com um pano no regaço a golpearem as rolhas de cortiça, enquanto os miúdos descalços e, alguns semi-nus, corriam pelas travessas e ruelas, até chegarem à Mata.
Era o delírio.
Apercebiam-se, então, da sua ausência, e apressavam-se a ir buscá-la para lhe dizerem mais uma vez que uma menina não se comportava assim.
Corria como uma flecha pelas escadas acima até se debruçar no murete da açoteia e ir até onde o seu olhar chegava,
longe.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Lugar

Foi aqui que me senti totalmente bem.
Neste lugar

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Partir

Fotos: JCR
Tinha de partir.
Descobrir onde pertencia.
Tinha crescido, de lugar em lugar, sem pertencer a nenhum.
Pela primeira vez um lugar habitava-lhe a memória, mas pressentia com frequência, que ainda não era esse.
Sempre que lhe ocorria a viagem, as emoções o cheiro a diversidade a cor, eram como um dejà vu, uma sedução.
Gostava de envelhecer nesse lugar.

sábado, 19 de junho de 2010

Sentia a necessidade de se isolar, para se lembrar quem tinha sido.
O corpo rente à terra.
Entregava-se ao sol de pálpebras fechadas, e sentia-se adoçada pelo chão morno e áspero que a percorria.
Entregava-se à vida sem rancor.
Vivia bem, por fim.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Era aos fins de semana ou, quando chegava a casa e estávamos irrequietos, que fazia uns aviões de papel.
Eram pura magia para os nossos olhos.
Esperávamos ansiosamente, vibrando, enquanto afinava as máquinas, acertando os vincos do papel.
Estavam prontos.
Era então que soltava uma gargalhada e com um gesto preciso lançava-os para o ar.
Lembro-me da luz do papel e do rosto do meu pai.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O horizonte está calado.
A noite adensa-se e os cheiros misturam-se com os sons que me chegam.
Tenho fome.

sábado, 29 de maio de 2010

Anseio por partir

Anseio por partir.
Usufrir do prazer que é estar depois da chegada.
E Asilah é mágica.
A muralha o oceano o minarete o chão continuam a existir, e outras coisas... que os meus olhos querem ver e o meu coração sentir.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Longe

Tenho uma relação com a cor que me desata.
Não há amarras quando se sente.
São pedaços de bem estar.
Na pele, no olhar longo,
dentro de mim,
longe.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

S/título

Antony Gormly
O caos perturba-me a desorganização.
Horizontes interiores, planuras.
Receios amainados.
Lanchas habitadas,
sofreguidão até à dor.
Viagem

domingo, 23 de maio de 2010

Pertença

Sem nos possuirmos,
partilhamos o olhar,
Somos nós.
Estamos,
quando permanecemos separados.
Os dois.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Lugares

Quando era criança, em Tavira, chegavam a casa, por correio, livros que o meu pai, desembrulhava apressadamente, com os nossos olhos pregados na surpresa.
Quando li as vidas de Florence Nightingale e Albert Schweizer, fiquei a matutar com muita força, que queria ser missionária.
E via-me então em África, como Schweitzer, num hospital cheio de gente, vestida como as ilustrações que via vezes sem conta de Florence, que era a minha heroína.
Curioso, o hospital parecia-se muito com a casa do meu avô, no Lobito, que a minha avó me mostrava, quando ia buscar as fotografias que eu via, revia e fazia perguntas.
Nessas minhas viagens, agarrava nas bonecas que estavam doentes, e cobria-as para não terem frio. Por vezes, vou buscar esses momentos, quando me enrolo na cama e adormeço com a sensação do bem estar que então sentia.

Prazeres

Lembro-me bem dos cheiros e das cores da livraria e da papelaria da minha infância, na Covilhã.
Havia a Nacional, e uma papelaria pequena de que não me recordo o nome, talvez a Ideal da Beira, onde comprava as bonecas de papel para vestir e os bonecos em prancha que espalhavam no balcão de madeira, e que era de difícil escolha.
Ir à livraria Nacional era descer a rua a correr e entrar ofegante na loja, procurar as folhas de papel de lustre com o olhar, e encostada ao balcão, enquanto esperava pelo caderno que tinha pedido, sentir o cheiro das borrachas dos lápis e do papel.
As cores.
E os livros, havia Os Cinco, as Três Gémeas, a Colecção das Raparigas, e as revistas aos quadradinhos, como se dizia então, que nos incendiava a alma.
E as cadernetas, onde se colavam os cromos que vinham em saquetas, incógnitos.
Prazeres