Ontem a minha colega estava com um desejo por castanhas que me contagiou.
Lembrei-me das sopas de feijão no Bairro do Arco do Cego em Lisboa, quando estava de esperanças, e arrancámos rua do Conservatório acima, até ao lugar onde poderia estar o carrinho do vendedor de castanhas.
Não estava, nem ali nem no fim da rua.
Regressámos a rir; falei-lhe de mim, do desejo pela tal sopa de feijão e enquanto gargalhava, lembrei-me do meu pai.
Hoje, quando fomos almoçar, lá estava um carrinho na rua e ao concordarmos em passar por lá na volta, penso que ambas chegámos a duvidar de que o iríamos encontrar, e rimos.
Estava, e ainda ficámos, enquanto as castanhas assavam, dez minutos à conversa com ele, um alentejano de Santiago do Cacém, que há cinquenta anos está em Portimão, a vender castanha assada desde os doze e a quem vêm, de propósito, buscá-las, primorosamente assadas.
Um descuido nos últimos segundos, faz a diferença entre uma castanha e um pedaço de carvão.
E estas estavam no ponto, até no sal, o que me leva a suspeitar de que a ASAE ainda não se lembrou deste negócio sazonal.
Em conversa, apercebi-me que também tinha conhecido o Zé Vilhena do Cercal, onde se comia uma sopa e, por vezes, uma galinha divinais, quando as batatas fritas e os ovos estrelados que devorávamos no Zé Manel na Ilha de Porto Covo, j á não confortavam.
Entretanto, ia-nos dando a provar as castanhas, eu a perguntar se as congelava, e ele a responder-me que agora vão para o frio, mas antigamente, por esta época, enterrava-as em areia seca, e vendia-as em Janeiro.
Não tinha notas e deu-nos o troco em moedas e "dois palmos de castanhas," como ele disse, não embrulhadas em jornal, mas em papel pardo que também se molda e guarda o calor.
Vai tudo da mão que entrega, e da que recebe...
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