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terça-feira, 20 de abril de 2010

Já tive

Hoje queria ter tido este olhar e esta idade.
Estar sentada nas escadas , à espera da radiografia que abrisse a porta, mas ter este sorriso.
Falar com a polícia, ver chegar a ambulância, mas ter esta idade.
Abrirem a porta para ir ter com a minha mãe, que me esperava com a mesa posta,deitada no chão da cozinha, e ter este olhar.
Já tive esta idade, com este olhar e o mesmo sorriso.
Já tive.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sem memórias

Calcorriei as calçadas de Tavira em pedra rosa e branca.
Entrei nas casas, nos templos,
perdi-me nos telhados.
Atravessei pontes.
Vi os muros brancos envoltos na velatura de um dia sem cor.
Estive no largo, andei pelo beco estreito,
e saí, _________________sem memórias.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pêssego

A saudade que tenho dos dias quentes.
Nunca tinha visto o Monte Alto em cor de verdete, com o cimento e os vasos a parecerem as casas da Beira
A terra está com um cheiro lavado, e os malmequeres da vila cá estão a cumprir as suas funções.
É o meu jardim.
Vou ter um pessegueiro de uma variedade California, que o sr. José Luís preservou nos seus 20 hectares, ali para os lados da Penina.
Uma terra que vai morrer com ele.
Agora, só o sr. José Luis e dois amigos é que cultivam essa espécie, trazida nos anos sessenta para o Algarve.
O tempo dos pomares de fruta no Algarve.
Lembro-me dos morangos e dos tais pêssegos, espalhados na pedra de mármore do armário da casa de jantar da minha avó. Do cheiro intenso e doce , que só o calor sabe emprestar.
Estou a ver a luz a entrar pelas portadas de madeira branca e a lançar cores no chão preto e branco, e os pêssegos , vermelho sangue e amarelo ouro.
Quando ando por aí, gosto de passar por lá.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O teu olhar

Fallorca, 2009
Quando estou contigo, não vejo o teu olhar.
Não está.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Su

Amy Butler e Prashant Miranda
Agora que o Salinger morreu, estava pr'aqui a enrolar o cigarro e,
a lembrar-me da minha amiga a falar, com aquele olhar do fim do mundo,
- Naquele tempo, não penses que a minha mãe era aquela coisa pequena, fraca..., que é agora,
era grande, tinha muita força !
E sublinhava com gestos, que diziam o tamanho das duas.
Foi então, naquele tempo que aprendeste esse olhar?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Desenho

Nas minhas divagações fui dar a Rodolfo Passaporte, o meu professor de desenho do 1º ciclo.
Intrigava-me a razão que levou um espanhol a dar aulas na Covilhã nos anos sessenta. Mas a aproximação naqueles tempos não era possível, e da única vez que fiz um desenho à vista sem a ajuda do meu irmão mais novo, este senhor disse-me que o desenho estava muito bem feito, que não podia ter sido obra minha.
O afastamento foi definitivo.O prato que serviu de modelo, continua em casa da minha mãe, o desenho não.

domingo, 13 de dezembro de 2009

O sonho

Hoje, enquanto enquanto andava no quintal, às voltas com as folhas, uma serie de imagens vieram em catadupa. Quando começaram a ganhar forma , lembrei-me do sonho.
Vi-me no patamar do prédio onde vivi a maior parte da minha vida . Alguém sem rosto, abriu a porta onde costumava viver a porteira, e ao entrar, apercebi-me com alegria que dava para uma praia, areia dourada e mar, poucas pessoas. Fiquei a olhar e a sorver aquele cheiro.
Os moradores sem rosto começaram a juntar-se. Falavam sobre a falta de segurança.
A porta tinha de estar fechada.
Era perigoso.
Virei as costas e corri para a rua.
Lembrei-me de estar em casa, à noite, de ouvir barulho na escada, de ir à porta olhar pelo ralo, e de regressar ao quarto, insegura.
Quando acabei de limpar o quintal, sentei-me debaixo do alpendre e fui invadida pelo cheiro que vem do mar.
Deixei-me estar como sempre faço, antes de entrar em casa e de me esquecer da chave do lado de fora.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É sempre assim,

É sempre assim,
Vai para casa cansada , e farta da vida que carrega lá fora.
Todos os dias, à noite, com os sentidos despertos, sobe a rampa e
quando chega lá cima, a casa devolve-lhe a força , e ela abre a porta.
Está em casa.

sábado, 27 de junho de 2009

Verão

Caminhar numa tarde estonteante de cheiros.
Limão,mel,alfazema,
sabores doces e acres que temperam o verão.
Sorver a maresia no ar limpo
Prazer

sábado, 6 de junho de 2009

Sabores

Tenho um sabor na boca da cor do ar.
É a vida

terça-feira, 19 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ainda hoje me ocorre o frio

Não gostei do livro da segunda classe, debotado, baço, traços imprecisos, mensagens pesadas.
Lembro-me de um dos textos, que sempre se colou à memória que guardei daquele dia em Tavira.
Um dia igual aos outros. Corria  à roda do jardim e vibrava com a intensidade de quem sabe que_____________acabou de chegar.
 
No largo onde brincava,  a igreja estava com as portas escancaradas e parecia estar tanta gente lá dentro, que não resisti.
Fui afastando as pessoas,  abrindo alas por baixo, e o túnel não parecia ter fim, até aparecer a tal "alma caridosa".
 
Pôs-me ao colo,  debruçou-me sobre um pequeno caixão muito branco, onde estava uma menina como eu, mas a dormir cheia de flores e com os lábios azuis muito,
muito escuros.
Senti frio. 
 _____________a história veio,  sem ser esperada.:
- Vês,  esta menina é como tu, estava a brincar e caiu para dentro de uma caldeira de cal. Agora é um anjinho.
Lembro-me de continuar agarrada pela "alma caridosa", que insistia em me mostrar que eu e aquela menina éramos iguais. Comecei a balançar o corpo e a mexer as pernas, até conseguir escapar.
Ainda hoje me ocorre  o frio