quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Monchique

A claridade de Monchique espantou-me. Não tenho ideia de ter lá estado, com um dia assim. Os monchiqueiros clamavam na rua pela chuva. Monchique, o penico do Algarve, como é conhecido por estas bandas, clareou o dia com a chama de um sol que desbravou as névoas, que nos fazem perder nos entrançados labirínticos da serra .
Calcorrei as ruas de calçadas antigas com casas à venda e ruínas deliciosas à mercê de quem as vai destruir. Vi casas, traçados originais, com cores flashantes, ou tons envelhecidos. Não gosto de me deter nos interiores, são sempre a contradição dos meus sonhos, sempre.
Subi até às ruínas de um convento de uma Nossa Senhora do Desterro, por caminhos que magoam os pés e nos atiram para a frente; e já que tinhamos subido tanto, um dos homens que se deixava estar por ali, num lugar estratégico, concedeu-nos o privilégio da visita àquele convento em ruínas, completamente decrépito, e a certificação de que o património português é assassinado.
Apercebi-me de que o homem, com ar de clochard e imbecilizado tinha assumido o estatuto de guarda da ruína, agora que lhe servia de abrigo e negócio. Cultivava uma pequena horta, para não gastar dinheiro na vila, e soletrou-nos então, com um ar demente e apressado, os preços dos seus produtos no mercado. Acho que não entendi então a alusão, de lhe comprarmos alguns dos seus temperos e legumes.
Foi uma visita estranha, um pouco pesada.
Deliciei-me mais com a visão dos castanheiros e das nogueiras que me acompanharam na subida.
E ao deparar-me com o largo da igreja, e dar-me com umas casas, com entradas acolhedoras, hortênsias azuis, janelas de madeira com tons de azuis e cinza, a atiraram-me para outros tons; e a igreja, com uma pórtico manuelino, majestoso e inusitado na leitura das cordas em granito que apontam para o exterior, com uma abertura que me impeliu a entrar por aquela porta luminosa. Não levei a máquina, e o que os meus olhos viram por aí, não me leva a reproduzir nenhuma imagem de Monchique.
Guardo-a comigo

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