Porque parei à porta da padaria a fumar um cigarro, compulsivamente, enquanto pedia que me embrulhassem duas bolas de berlim, a empregada contou a história;
Deixou de fumar porque quis, foi vontade dela; sempre que o filho e o marido, que já tinham deixado de o fazer, a pressionavam para fazer o mesmo, irritava-se, pegava noutro cigarro.
Contou-me que tem uma fragilidade no pulmão e sempre que ia ao o médico era a mesma história.
Até que naquela noite, sentiu uma falta de ar insistente e dolorosa; o coração pulsava vigorosamente e depois parava, estremecia...
Durou horas.
No outro dia, deitou o maço de cigarros fora, e nunca mais fumou.
Sente-se muito melhor
A irmã, não, não consegue deixar de fumar.
Ela faz com a irmã o que o marido e o filho faziam com ela, tem noção disso, mas não consegue deixar de o fazer.
Começou por me dizer que há pessoas que têm força de vontade, mas a irmã não.
São dois maços por dia
Não se pode condenar, apontar, sem se saber a história, disse:
- Ela é muito nervosa, já esteve internada....
é o filho, com dois anos sofreu queimaduras em 80% do corpo. Fizeram enxertos de pele de cadáver que veio de fora, operações plásticas, mas é um menino queimado.
Se a senhora visse os olhos dele...A minha irmã vive no terror da aproximação das datas dos exames e dos hospitais.
Já se tentou suicidar. Quando vou lá a casa aos fins de semana para a ajudar a fazer o almoço, está sempre a desaparecer para fumar. Acabo eu por fazer o almoço sozinha, não me importo.
Quando nos sentamos à mesa, come bem, pausadamente, olhar calmo, isso é. Mas no fim começo a perceber a ansiedade em se levantar para ir fumar outro cigarro.
Sou eu que lhe chego a dizer, levanta-te e vai lá fumar.
A senhora vê, para a minha irmã é muito difícil.
Entretanto já tinha apagado o cigarro há muito e fiquei a pensar nos dois confortos daquela mulher:
Queimar o tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário