Estava a chover, muito vento, e a minha mãe com dois sacos nas duas mãos, mal envolta na gabardina, singularmente torcida e bambeada, como anda habitualmente, aguardava à porta do supermercado uma aberta para sair, quando alguém se aproximou em ar de admoestação:
- Devia ter trazido um chapéu, não pode apanhar chuva, não sabe que pode ficar constipada?
A minha mãe, olha, sorri, não diz nada. Pensa que ela não sabe, que se trouxesse o chapéu já não podia carregar as compras, mas deixou-se ficar calada, para que a senhora nova permanecesse na convicção de que ainda sabe tudo.
A senhora nova, aproxima-se da minha mãe, e enterra-lhe o capucho a tapar-lhe os olhos.
A minha mãe sorri, não agradece e sai.
-Sabes filha, estou descontraída, até amanhã !....
Ouve, ela não me pôs o capucho como tu pões.
Tapou-me os olhos! ...
Ainda a ouvi sorrir, mesmo antes de desligar o telefone.
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